segunda-feira, fevereiro 27, 2006

maputo

Maputo é de facto uma cidade sui generis… a grandiosidade da sua construção, os mimos disponíveis (centros comerciais ao estilo europeu, fantásticos restaurantes, salas de espectáculo, health clubs, etc.) e a vida cosmopolita e animada que levam os seus habitantes contrastam com caixotes de lixo submersos de tão sobrecarregados, com a ubiquidade de shotguns e kalashnikovs que se mostram pela cidade a qualquer hora e qualquer lugar e com o não parar nos vermelhos à noite.
Maputo é ao mesmo tempo capaz de envergonhar Paris e rosnar a São Paulo! Tão depressa estamos num centro comercial a levantar dinheiro em modernas ATM como de seguida encontramos os guardas à porta do prédio a jogar damas num tabuleiro de cartão em cima de uma cadeira de plástico apenas com duas pernas. As peças brancas são as caricas de cerveja, as do adversário, de Coca-Cola! Outras vezes, regresso a casa mais tarde e lá estão eles a cumprir o seu dever: dormir ferrados.
Tão depressa apanho um táxi torto e podre onde pura e simplesmente as portas não fecham, abana por todos os lados, está sempre a ir abaixo, só trava de duas rodas, etc. etc. etc., como de seguida vejo passar um HummerH2, ou um qualquer BMW ou Mercedes topo de gama. Muitos carros têm as peças marcadas para não serem roubadas – por exemplo, marcam-se as portas com rebites escrevendo siglas.
Tudo se vende nas ruas: artesanato, mont blancs, tanques de água, rolex, ray ban, fruta, legumes, peixe, pregos, escapes, fichas triplas, tabaco avulso, etc. etc. etc., tenho a certeza de que se perguntar, até caixões me aparecem para escolher e regatear preço.
Os carros tunning (à seria, azeiteiros como os melhores em Portugal) contrastam com as romarias das mais variadas crenças indígenas, feitiçarias e jujus.
E a diversidade étnica e cultural? Melting pot! Olho para um lado e vejo uma mulher muçulmana tradicional a fazer caretas com um bebé loirinho ao colo de uma senhora preta. Olho para o outro e vejo passar indianos, asiáticos e pelo meio alguns tugas de gema.
Os milhares de milhões de cafés e esplanadas da cidade são do melhor para beber tudo isto e empurrar com um copo de laurentina gelada!
Quanto a casa, alugámos um fantástico e enorme flat tipo 4 com um salão de baile onde vamos ficar os 6 durante os 9 meses a pasmar com a vista do nosso 12ºandar… as traseiras têm vista para o mar. Curtimos costa até onde a vista alcança para os 2 lados e de noite, uma gorda e amarela lua surge do Indico e sobe, entrando-nos pela sala e cozinha dentro. Para a frente, temos o cruzamento das que são as principais avenidas da cidade e avistamos pérolas como o famoso piri piri. Como não podia deixar de ser, toda a grandiosidade do nosso prédio, a inteligência com que se encontra dividido e a sua localização idílica contrasta com as portas duplas com grades, várias fechaduras, barras de ferro e cadeados (heranças dos tempos de guerra). Quando finalmente abrimos as portas do nosso refúgio e pomos o pé no hall, há por lá sempre baratas (de dimensão generosa) a passear. Dos 3 elevadores apenas um se encontra a funcionar e esse… Jesus… abana, chia, treme, geme e tem tantos truques para ser utilizado que o condomínio contratou dois “motoristas” – o Sr. João e o Sr. José. Fazem turnos de 24 horas, alternados para a “condução” desta estóica máquina!
Tenho conhecido muita malta interessante. Ex-contactos que aceitaram propostas de trabalho cá, pessoal de ONGs, missionários, etc. Aprendo que afinal o país ainda não está desminado, acabou foi o dinheiro dos projectos de desminagem que havia e assim as ONG que tratavam disso foram embora, deixando ao esquecimento um problema bem real. Aprendo…